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quinta-feira, 30 de outubro de 2008

A 484ª pior escola do país trouxe-me até aqui


Ok, este ranking aparentemente não reflecte todo o trabalho desenvolvido pelas escolas, apenas são tidas em conta as notas obtidas pelos alunos nos 20 exames nacionais do ensino secundário, mas acho que se olharmos com mais atenção ele dá-nos informações preciosas sobre o estado geral do ensino em Portugal, não devendo por isso ser olhado com o desprezo e desconfiança com que todos nós o estamos a olhar. Algo de construtivo pode daqui ser retirado.

Uma coisa que eu já sabia desde os meus tempos do secundário era que quando nos cá na madeira chegávamos aos exames nacionais, eram-nos apresentadas situações nos exames que nós nunca tínhamos visto ou então que nos eram apresentadas de uma forma completamente diferente. No meu exame nacional de química isso aconteceu-me e ainda hoje me lembro de no final do exame alguém estar a mostrar 1 exercício ao nosso prof e ele estar a olhar para aquilo com pior cara do que nós! Foi assim que passei de grande nota em 3 anos de secundário a química para uma quase nega no exame nacional. Nós continuamos a ser mal preparados nas disciplinas mais importantes, os saltos em termos qualitativos do 7º para o 8º e do 9º para o 10º continuam muito grandes e isso reflecte-se sobretudo na baixa das notas da maior parte dos alunos nestes anos.

Outra grande conclusão a reflectir é o facto de não existir uma única escola Pública no top 10 do Ranking e apenas 8 a constar das 30 melhores! Isto requeria uma investigação bem mais profunda e se calhar muitas metodologias do privado poderiam ser adaptadas no público com sucesso.

Acho contudo, e por experiência própria que existem escolas privadas e escolas privadas! Para esclareçer um pouco isto, achei uma entrevista com um responsável de uma escola privada do Porto que eu conheço relativamente bem:

Extracto de entrevista a Conceição Amaral, directora pedagógica do Externato Ribadouro - Porto.

"O objectivo dos nossos alunos é o acesso ao Ensino Superior, enquanto no ensino público os alunos têm outros objectivos", fez notar. (isto é muito notável para quem conheçe a realidade destas escolas!) Para Conceição Amaral, é a qualidade do ensino ali ministrado que explica que 85% dos seus alunos tenham entrado no Ensino Superior na primeira fase e que 83 alunos tenham conseguido um lugar em Medicina.

Com uma mensalidade de 330 euros mensais, os alunos frequentam, para além do currículo idêntico ao do ensino oficial, aulas de reforço em Biologia e Geologia, Físico-Químicas, Matemática e Português. "Todos os alunos têm mais 90 minutos por semana nessas disciplinas desde o 10.º ano ", explicou. Além disso, os estudantes em ano de exames (11.º e 12.º anos) passam a poder frequentar aulas exclusivamente de preparação para os exames. "Nessas aulas, treinamos os alunos para interpretarem as perguntas dos exames e ensinamos a estruturação das respostas em todas as disciplinas com exames", referiu.

Ao contrário do ensino oficial, os professores são seleccionados e constituem um corpo estável.

Ok. Eu cheguei a morar no Porto com um jovem que andou não no Ribadouro mas noutra escola privada do Porto.

A maior parte (não todos) destes alunos não acabam o 12º com 18 anos, muitos vêm de fora do Porto com a intenção de frequentar o 10º, 11º e 12º e preparar-se para os exames e a maior parte vem realmente de classes sociais favorecidas. Este colega meu por exemplo, era filho de um presidente de junta, veio fazer o 12º ano a esta privada e queria muito ingressar em educação física.

Durante o ano em que estive com ele no mesmo apartamento e sem exagero de qualquer espécie, não o vi a estudar mais de 10 horas excepto para os exames nacionais. As cábulas, exames arranjados antes de realizar os mesmos e alguns professores que davam uma "mãozinha" eram suficientes para levar este e muitos outros jovens que conheçi por meio dele a passar o 12º com notas bem altas (ele acabou esse ano com média entre 14-16).

É aqui que surjem estas aulas vocacionadas para preparar os alunos para os exames nacionais, que bem fresquinhos das cabeçinhas têm tempo de sobra para preparar os exames e passar para a faculdade com grande média! É preciso desmistificar isto.

Eu sempre fui contra os exames nacionais, acho que se aumentavam as exigências ao longo do básico e do secundário e se faria o acesso à faculdade de uma outra forma que valorizasse realmente o trabalho de 12 anos de estudo!!!!

A lista completa pode ser vista aqui.
Aceitam-se comentários...

2 comentários:

Cronos disse...

Bom dia,

Devo dizer que foi uma má escolha ler este post logo pela manhã, pois acabei por ficar um tanto ou quanto atrofiado com algumas opiniões.
1.º Há que acabar com a ideia de que o privado é que é bom! Há muito bons professores e muito bons alunos, independentemente de ser público ou privado. Resta analisar as motivações, esse é o único ponto que concordo.
2.º Fiquei com dúvidas em relação à tua posição. Afinal, és a favor ou contra o ensino público/privado? Quando digo a favor ou contra, quero dizer se preferes um ou outro? Tens de clarificar a posição.
3.º Quanto ao exemplo do teu amigo/conhecido/companheiro de casa: Achas um presidente de junta uma pessoa abastada? Só se tiver negócios próprios. Achas que acabar o 12º ano com média de 14 é ter boa média? Não me parece. Achas que ter altas notas a cabular e a copiar é do melhor? Pois eu discordo disso tudo. Entrar em Educação Física será assim tão complicado? Se dissesses Medicina eu até concordava, mas Ed. F., basta olhares para o exemplo da UMa.
4.º Até acredito que os meninos das escolas privadas tenham melhores notas, mas porque os professores as inflaccionam com medo de perder o emprego. Se não, vejamos: um menino da privada quando chega aos exames nacionais será que tem assim tão melhores notas do que os alunos do público? Conheces os casos de sucesso do Porto Moniz? Um aluno da privada quando chega a universidade quantos anos leva a acabar o curso? E agora dou-te o meu testemunho: tive muitos colegas que vinham da privada e que só davam provas de terem passado os anos à pala de cábulas e copianços e na universidade andavam a patinar quando encontravam um professor mais exigente e mais lixado. Há que ver as coisas com mais calma.
5.º Não sei como são feitos esses estudos, nem tão pouco alguma vez analisei algum. Mas uma coisa é certa: quantos alunos estão na privada? Quantos alunos estão na pública? De certeza que são mais os alunos que na pública conseguem tirar grandes notas do que a percentagem de elite que o conseguem na pública. É uma questão de colocarmos em pratos distintos da balança os alunos que conseguem melhores notas e logo veremos para que lado pende... é uma questão de quantidade...
6.º Novamente o meu exemplo pessoal: Fiz todo o meu percurso escolar no ensino público. Andei numa das piores escolas do Funchal, em anos bastante complicados no que toca a conflitos, droga e álcool. Tive excelentes professores e óptimos colegas. Na minha turma de 12.º ano éramos uns 20. 12, pelo menos, tinham média superior a 14. desses, 6, pelos menos, tinham média superior a 16. Eu, no exame nacional, por exemplo, nos exames nacionais consegui tirar em quase todos notas superiores a 16. Será que o ensino público prepara assim tão mal as pessoas? Não me parece. Tudo depende da motivação.
7. Só para terminar, pois havia muito pano para mangas, os resultados do ensino dependem de muitas variáveis. Não vamos ser tão limitados e redutores e analisar apenas os resultados dos exames, pois esses, reflectem muita coisa: por exemplo, apoio familiar, apoio social, responsabilidade pessoal e familiar. Ou será que as escolas é que têm e devem fazer tudo? Não me parece.
Em todo o caso, de nada nos serve estarmos aqui a discutir estes assuntos, pois a lado algum nos vai levar. Fica apenas a minha opinião, sem ofensas, como é óbvio.

Bom fim de semana e não esquecer o Euromilhões.

Cronos

Anónimo disse...

Vamos ver se esclareço alguns pontos!

No privado em geral trabalha-se com maior à vontade, e conseguem-se geralmente ter melhores condições de trabalho e maior abertura para inovar e melhorar progressivamente, ontem no diário o professor/jornalista André Escórcio tem um artigo muito bom que fala um pouco do que vai mal no público. Os meus profs de quimica e biologia (que foram sensacionais a todos os níveis) davam aulas na APEL e eles conseguiam trazer um bocadinho do melhor do público para o privado! Não sei se o privado e melhor ou pior mas sei que há excelentes exemplos de escolas privadas no continente cujos exemplos são de seguir! Só é pena não se verem esse tipo de escolas por cá!

Tenho um fetiche qualquer por escolas bilingues (portanto privadas), não sei explicar mt bem porque!


Não tá em causa ele ser de famílias ricas ou não, só quis dizer que infelizmente nem todos conseguem despender 400 euros por mês por filho para ele estudar numa BOA privada, por isso as privadas são ainda uma cena só alcançada por uns previligiados, infelizmente!

A história desse colega era só para alertar que existem 2 tipos de escolas privadas! Umas às MÁS (como a dele e a do Ribadouro que apareçe no top 20) são escolas que quase que existem apenas com o objectivo de pôr gente na faculdade e isso é muito mau, pois é um príncipio que só pode acabar na formação de maus profissionais no futuro! Existem contudo as BOAS como por exemplo o colégio luso-francês do Porto entre outras que foi várias vezes alvo de reportagens na TV! Este ranking não diferençia estes 2 tipos de escolas privadas!

Ele queria ir para ed física, mas a maioria do pessoal quer é entrar em cursos com notas de ingresso bem altas!

Obvio que este ranking não nos dá uma visão global do problema, mas o facto de ele ser criticado todos os anos por esta altura já devia ser suficiente para os responsáveis da educação neste país se mecherem a arranjar uma forma muito mais objectiva de estudar o desempenho das escolas/professores e alunos!